terça-feira, 6 de abril de 2010

Educação Ribeirinha: Do Município de Altamira - Pará

Profº. Esp. Nilson Costa Lima

Superintendente Escolar/SEMEC

Altamira – Pará


Resumo: Este trabalho remete ao papel da mulher na formação da família, no espaço ribeirinho das comunidades, Ilha Comprida, Araras, Jabuti, Cajituba, Cajueiro, Lages do Xingu, Piranha Aquária e Palhal, município de Altamira, Estado do Pará e as suas contribuições quanto à formação dessa educação, cultura e saberes locais. Nesta pesquisa se faz um relato do cotidiano desta mulher ribeirinha, quanto ao seu desempenho como educadora junto a sua prole. Como esta educação é percebida pelas informantes e as suas perspectivas enquanto ser social, formador, educador e ¨reprodutor¨. Uma pesquisa qualitativa, onde predomina a observação de campo evidenciando o saber popular e formal desta mulher. Seguindo-se de instrumentos utilizados como coadjuvantes no processo investigatório e na construção dos dados: questionários, entrevistas estruturadas e semi-estruturadas e leituras pertinentes à educação no campo, gênero, movimentos sociais e família. Após a pesquisa, conclui-se, portanto, que a educação faz parte da vida da mulher ribeirinha assim como: comer, dormir, viver e andar. Para esta mulher o seu papel na formação da família se dá por meio das atividades de subsistência como: cozinhar, lavar e cuidar dentro dos limites a elas impostos e dos seus saberes.

Palavras-Chaves: Gênero; Família: Educação; Comunidades; Ribeirinhos.

INTRODUÇÃO

Não raro, a melhor maneira de se saber o que significa um trabalho pedagógico educativo em uma comunidade ribeirinha é procurar compreender por que muitas pessoas são participam dele e por que, entre os que participam, poucos o fazem como seria desejável (BRANDÃO, 2002, p. 132).

Todo o processo que envolve esta pesquisa teve inicio ano de 2008 estendendo-se até 2009, quando estava em campo, trabalhando na construção dos dados para a Especialização do Programa de Pós-graduação em Mídias na Educação – PGME (UFPA) com o tema: Formação Continuada, em serviço.

É comum quando se está em campo deparar-se com situações aleatórias aos objetivos e metas pré-determinados no projeto de pesquisas, porém são fleches importantes que origina outros trabalhos com eixos temáticos diversificados, cabe ao pesquisador neste momento se apoderar desses lampejos e utilizá-los oportunamente. As mulheres das comunidades do município de Altamira – Pará: Ilha Comprida (escola Joelina Pedrosa), Araras (Escola São Raimundo), Jabuti (Escola Santa Maria) Assentamento Cajituba (escola Cajituba), Assentamento Cajueiro (Escola Cajueiro) Assentamento Igarapé das Lages do Xingu (Escola Lages do Xingu) e Palhau/Cotovelo (Escola São Luiz) são as protagonistas deste trabalho. É importante entender como elas vivem, pensam, sonham e toda a rotina que permeiam seus cotidianos, para depois traçar o seu perfil, e identificar como se percebem enquanto mães e responsáveis pela educação dos seus filhos.

A pesquisa aqui relatada desenvolve-se nestas comunidades no Rio Xingu, em meio a Floresta Amazônica e enfoca o viver das mulheres e suas responsabilidades enquanto mães, educadoras e a dualidade da educação formal e domiciliar recebidas pelos seus filhos e filhas.

A pesquisa tem dois objetivos: fazer um perfil desta mulher e identificar o seu papel na família, como ela educa seus filhos e filhas e se assumem efetivamente este papel de educadoras do lar, se sentido parte deste processo e formação.

Estes objetivos, por sua, se imbricam em pressupostos. A família é o primeiro grupo social que o individuo é inserido e conhece. É no grupo familiar que se aprendem as necessidades básicas para sobrevivência humana: falar, andar, comer e outros que são inerentes a vida.

Um dos fatores demonstram a evolução do processo educacional formal é entender que o currículo escolar e as práticas educativas devem levar em conta as experiências cotidianas das crianças que freqüentam a escola, a pesquisa dá especial atenção às práticas culturais vivenciadas por elas na família e na comunidade, a fim de estabelecer uma interação constante entre os conhecimentos escolares e os saberes, valores e práticas da vida cotidiana. A divisão sexual de papéis, na realidade do campo, não aparece apenas na questão do trabalho, mas perpassa a totalidade do modo cotidiano de vida, as relações sociais que se estabelecem em diferentes espaços como do lazer, da religião, da escola e das lutas sociais.

Falar em gênero é, portanto pensar não em homens e mulheres biologicamente diferenciados, mas em masculino e feminino como constituídos a partir de relações sociais fundadas nas diferenças entre os sexos, diferenças lentamente construídas e hierarquicamente determinadas. (GROSSI, 1993)

Esta pesquisa combina investigação e intervenção. Nela o ambiente natural em seus aspectos físicos e sócio-culturais é tomado como fonte direta de achados e dados, construídos pelo próprio pesquisador. Neste achados existe uma preocupação constante em respeitar e valorizar os ¨sentidos¨ que as mulheres e sua prole dão às coisas e a suas vidas.

A pesquisa se estrutura em dois eixos. O primeiro focaliza a mulher e a sua história de vida. A etnografia foi à base metodológica desta investigação, pela necessidade de se traçar um perfil desta mulher e do seu viver. Os instrumentos utilizados para a construção dos dados foram: entrevistas estruturadas e semi-estruturadas, observação, gravações em áudio, anotações em diário de campo, e registro fotográfico. Foram entrevistadas 18 (dizoito) mulheres com idade entre 17 a 60 anos (sessenta) anos, a maioria com união estável, geralmente filhas e esposas de pescadores, suas casas são sempre próximas ou nas terras das suas famílias.

Muitas mulheres principalmente as mais jovens sentiam vergonha e não queria falar, os depoimentos mais completos foras das mulheres com a faixa etária acima de 40 (quarenta) anos, eram mais desprendidas e algumas diziam que já estavam muito velhas e que não seria valorizado o que elas falassem. Mesmo assim não se atreviam a falar dos seus maridos e dos seus pais, para elas isso tinha uma palavra ¨punição¨.

Outro eixo fundamenta-se na mulher mãe e educadora, e a sua percepção quanto à posição ocupada na constelação familiar. As entrevistas, questionários, diário de campo, observação e registro fotográfico consolidaram também construção destes dados, os quais escancararam os problemas vividos por estas mulheres ribeirinhas que tem suas vidas diretamente ligadas à família e não se percebe como uma peça importante e fundamental deste conjunto de pessoas que: dormem, acordam, comem, choram, dão gargalhadas e vivem ¨sob¨ a sua condução.

Para Gokhale (1980) a família não é tão somente o berço da cultura e a base da sociedade futura, mas é também o núcleo da vida social. Ele ainda acrescenta que o sucesso da educação da criança pela família será o suporte para o desenvolvimento da sua criatividade e da sua produção na fase adulta. A família interfere diretamente na formação da personalidade e do caráter do individuo. Paulo Freire (1986), fortalece o importante papel da casa e da família na vida humana, ele foi alfabetizado no chão do quinta da sua casa, à sombra das mangueiras, com as palavras do seu mundo, não do mundo maior dos seus pais. O chão foi o quadro-negro e gravetos o seu giz.

Para falar de educação foram utilizados: Freire, Makarenko, Brandão e outros. A família foi caracterizadas e comentadas por vários autores com destaque e aprofundamento de, Grossi, Gokhale e Chauí. Em um trabalho de pesquisa qualitativa que fala de povo e comunidade não poderia faltar a contribuição de Odila Souza e Ducila Almeida, acompanhados de importantes escritos de autores altamirenses, que pesquisam e conhecem este povo e esta região: Francisca Osvaldina, Raimunda Oliveira, Cecília Batista e Antonia Martins.

2.CENÁRIO DA PESQUISA

É a população constituinte que possui um modo de vida peculiar que a distingue das demais populações do meio ribeirinho ou urbano, que possui seu cosmo visão marcada pela do Rio Xingu. Para estas populações, o Rio Xingu não é apenas um elemento do cenário ou paisagem, mas algo constitutivo do modo de ser e viver do homem (SILVA, 2002, p.27).

Comunidade Jabuti é um distrito que está localizado a (90) Km do município de Altamira no Estado do Pará, margem direita do Rio Xingu , com acesso estritamente fluvial. São 298 (duzentos e noventa e oito) famílias que vivem basicamente da pesca e agricultura, tem energia elétrica em algumas casas, motor yahma e tobata própria de moradores e outros sem, água de poço artesiano comunitário construído há anos pelas comunidades mais com orientações da FUNASA Fundação Nacional de Saúde e sem assistência suficiente para tratamento da mesma, telefone, o qual permite que a escola tenha computador e acesse a internet, televisão com antena parabólica comunitária. Não chegar jornal escrito nem correspondência via correio.

As correspondências são trazidas pelo barco de linha que são entregues a uma senhora da própria comunidade e esta as distribui, é um trabalho voluntário.

Estão organizadas socialmente da seguinte maneira: uma escola de madeira com 01 (uma) sala de aula, a qual atende as comunidades e seu entorno, com toda a Educação Básica, 01 núcleo de ensino que serve como representação da SEMEC/SUPERINTENDÊNCIA ESCOLAR, que atende, orienta e inspeciona as escolas ribeirinhas do município de Altamira também as localidades próximas que formam um número de 11 unidades escolares (onze), todas de 1º ao 5º ano, multisseriadas (mais de uma série na mesma sala de aula).

Até pouco tempo, final de 2008, os caminhos eram abertos pelos moradores com terçado {ii} ou motor serra pelos moradores das ilhas e terra firme.

No período das águas, como se fala na região do Xingu, que se estende de novembro a abril, as ilhas ficavam alagadas e cheias de lama, os que chegam da zona urbana andam de botas e jeans, porém, os ribeirinhos andam de bermudas e chinelos ou pés descalços, como eles mesmos dizem: ¨nós somo gente que põe os pés na lama, o povo da cidade não sabe o que é isso¨.

Quase todas as escolas estão pavimentadas com passarelas construídas de madeira, medindo um metro e meio de largura por toda extensão, essa foi uma conquista dos moradores que os deixaram muito felizes, os mesmos caminham ou andam de bicicletas por elas como se estivessem passeando em uma grande alameda ou praça, a cena é gratificante.

São comunidades situadas a 112 (cento e doze) Km de Altamira e a 13 (treze) Km da Gleba do Assurini, tem 225 (duzentos e vinte cinco) famílias, uma unidade de ensino, de madeira com 01 sala de aula, 01 (um/uma) professor/a que lecionam do 1º ao 5º ano, os mesmos tem o magistério e outros cursando pedagogia dos anos iniciais.

Com esta organização estrutural da educação das localidades ribeirinhas os alunos que concluem o 5º ano têm as seguintes opções para concluírem ao menos o Ensino Fundamental: vão estudar todos os dias no distrito do Itapuama utilizando o barco da escola ou indo de bicicleta na época da seca ou ficam sem estudar.

A base de sua economia é a pesca e a agricultura pelo cultivo de frutas e mandioca.

Todos que lá residem se conhecem como quase todos são parentes. Eles costumam se organizar por clãs, uma casa próxima da outra, uma organização social bem provinciana: as casas como as terras são dos pais, os filhos quando se casam, vão recebendo seu pedaço e construindo suas casas, plantando suas roças e formando suas famílias. Isto acontece em quase todas as comunidades ribeirinhas.

A forma de lazer é bem comum e diferenciada pelo sexo. Os homens jogam bola, sinuca, batem papo e vão aos festejos. As mulheres dependendo da idade e estado civil, vão aos festejos, à igreja, assistem televisão, batem papo, mais o que é comum a todas, gostam intensamente de dormir de dia e acha isto um ótimo lazer

As crianças se divertem olhando as embarcações passarem, correndo, brincando de pega-pega, pescando com os pais e quando lhes é permitido dependendo da idade, tomando banho de rio.

O que impressiona é o gosto que o pessoal destas localidades tem por seus terreiros, estão sempre com gramados bem aparados, jardins com diversos tipos de plantas e flores que dão ao local um colorido todo especial, quase que disputando com a beleza do rio.

Geralmente, é pessoas alegres, tranqüilas mais como todo ribeirinho, são bastante desconfiadas.

Estas comunidades contempladas por estarem distantes de Altamira e consequentemente pela dificuldade de acesso e comunicação. É importante que de tenha uma visão critica de como vivem, ao longo do majestoso Rio Xingu, e as dificuldades por elas enfrentadas num lugar inóspito, para os olhos de quem vive na zona urbana e considera um cotidiano bastante diferente. Para Santos (1999) o cotidiano representa as características de um lugar, que é compartilhado entre as mais diversas pessoas e organizações existentes, acompanhadas por uma relação dialética de cooperação e conflito, sendo essas as bases da vida comum.

3. PERFIL DAS INFORMANTES

¨As mulheres apresentam um baixo nível de escolaridade decorrência da falta de oportunidade de estudar, por vários motivos. {...} A exaustão imperava e o sonho se tornava cada vez mais longínquo. Outras alegaram a dificuldade de convencer os companheiros do desejo que sentiam em, estudar, quase sempre a negociação não era favorável às mulheres¨. (FECHINE, p. 2007).

As informantes foram 18 (dezoito) mulheres, todas já eram mães 100%, 02 (duas) mulheres estavam matriculadas e estudando, 07 (sete) eram analfabetas e 09 (nove) sabiam ler, mais pararam seus estudos por causa da falta de acesso, de casamento ou do nascimento dos filhos. Todas as mulheres entrevistadas que sabiam ler não chegaram a concluir o Ensino Fundamental.

Todas moram em casas de madeira na beira do Rio Xingu, os maridos são pescadores e também trabalham na agricultura, só para subsistência. As casas sempre são próprias ou cedidas por algum parente.

Quanto a renda familiar, todas as mulheres entrevistadas não têm nenhuma fonte financeira e os maridos ganham menos que um salário mínimo, a pesca como a agricultura é só para a subsistência. Das mulheres entrevistadas só duas têm um filho cada uma, o restante delas têm de 02 (dois) a 06 (seis) filhos.

Quanto ao uso de eletrodomésticos: 18(dezoito) têm rádio; 16 (dezesseis) têm televisão; 10 (dez) têm ferro de passar roupas e 06 (seis) tem DVD. Quanto à religião 12 (doze) são católicos e 06 (seis) são evangélicos.

Como você considera sua vida emocional e familiar hoje? Esta foi uma das perguntas que as mulheres tiveram mais dificuldade em responder, o momento que antecedia a resposta era longo e silencioso. 06 (seis) informantes responderam: minha é ótima; 06 (seis): minha vida é boa; 06 (seis): por causa do que eu já sofri acho minha vida ruim.

Como mulher o que você acha que interfere negativamente no seu crescimento pessoal? 03 (três) responderam falta de opção de trabalho; 09 (nove) responderam que é falta de cultura (educação); 03 (três) responderam outros (porque sua opção não estava contemplada no questionário) e 03 (três) não responderam.

As famílias são organizadas em formas de clãs se ajuntando perto da margem do rio e os casamentos acontecem com moças e rapazes da mesma comunidade ou de comunidades vizinhas. Formam pequenas vilas em torno das casas dos pais, em terras cedidas por eles. O sentido de família para os ribeirinhos é muito importante existe uma grande união entre si.

Enfim, são mulheres que vivem em prol da família, desempenhando papéis que não condizem com sua condição cultural e social, pois como ensinar aos filhos o que sabem, pois nunca ou quase nada lhe fora ensinado, e trazem por isso, consigo culpas que não lhe cabem, como o futuro e a sina dos filhos e filhas, segundo elas: as meninas terão o mesmo futuro, serão esposas e mães e os meninos serão pescadores e pais. Elas entendem que é a herança que elas deixam para sua prole, porque não estudaram e a culpa é tão somente delas, pois parir é uma atribuição sua.

A mulher ribeirinha é assim réu de si mesma, consegue ser a sua própria carrasca, se imbricam em rótulos e culpas que a vida lhe deixou como uma herança passando de geração em geração, e assim conseguem viver seu dia a dia, em uma vida equivocada de situações que o patriarcado perdura em pleno século 21 onde a violência doméstica encontra-se invisível permeada pela submissão e admissão de culpas sem precedentes.

Em meio a todas estas dificuldades se percebem ainda mulheres com sonhos diferentes para suas filhas e filhos, porém sem a ousadia de sonhar para si, é como se não tivessem mais este direito.

4. MULHER RIBEIRINHA: MÃE POR DIVINDADE, EDUCADORA, PESCADORA E AGRICULTORA POR NECESSIDADE

Ninguém é analfabeto por eleição, mas como conseqüência das condições objetivas em que se encontra. Em certas circunstâncias, o analfabeto é o homem que não necessita ler, em outras, é aquele ou aquela a quem foi negado o direito de ler (PAULO FREIRE, 1981, p. 15).

Em meio a estes resultados de pesquisa, fica identificada uma mulher invisível num meio a uma sociedade onde a percebe como um apoio, suas atividades e atitudes se é que existem, se sobrepõe aos costumes, interesses e vontade dos homens e das comunidades que estão inseridas. Para ser mãe não é precisa fazer curso, se diplomar ou capacitar, é preciso querer ser. E isto foi percebido durante toda a investigação, todas as mulheres entrevistadas, gostam de ser mãe, porém não se percebem como essencial na criação dos filhos nem como educadoras.

As indagações mais interessantes que ruborizava seus rostos e as deixavam com as mãos tremulas eram quando se falava nela enquanto educadora e ensinadora dos filhos, algumas chegavam a proferir a seguinte pergunta: Como eu posso ensinar seu eu não sei ler? a velha vinculação da educação com à instituição (escola), para elas só quem ensina é o professor ou professora.

As perguntas tinham respostas imediatas: Quem ensinou seu filho e ou sua filha a falar, andar, comer, tomar banho, brincar, rezar, orar, cantar e outras atividade inerente ao ser humano, para a sua própria sobrevivência? E sempre existia uma rápida e quase única resposta ¨EU¨.

O que importou mais nesta pesquisa foi esbugalhar os olhos dessas mulheres quanto a percepção da sua importância no crescimento físico e emocional desta família, para isso não precisava ser doutora, bastava ser mãe.

Durante toda a investigação se percebeu as mulheres imbricadas em bastidores familiares onde os resultados e palavras finais não dependiam dela de sim de seus maridos que chegavam a falar que os filhos não aprendiam porque as mães tinha inteligência fraca e ai os filhos ¨puxavam a ela¨ ficou registrada esta constatação de que na visão destas comunidades a única herança que a mulher ribeirinha deixa para seus filhos e filhas de capacidade de aprender e consequentemente de ensinar.

Depois de longas conversas adentra a investigação situações que revela uma mulher frágil e ingênua, quando esta não se materializa como educadora do lar. Bem ou mal, não cabe a este pesquisador mensurar a intensidade desta percepção mais evidenciar as observações por elas descritas, são falas que propunha esta visão: olha, eu faço com meu filho o que meu marido manda, mais mesmo assim se alguma coisa saí errada a culpada sou eu, ele diz que eu não soube ensinar, eu tenho é medo.

É muito interessante quando se conversa com essas mulheres, elas entendem que o oficio de ensinar é propriedade da escola (instituição).

As mães que não sabem ler disseram que é um grande problema para os filhos fazer as tarefas de casa ou receber qualquer auxilio nos trabalhos escolares, uma delas conseguiu com muito custo convencer o marido quanto a sua necessidade de voltar a estudar, ela disse que era um grande sonho mais que só conseguiu realizar porque mostrou para o marido que os filhos dela só conseguiriam estudar se ela soubesse ler para ajudá-los nas tarefas, ou então eles iriam desistir como eles porque seus pais não sabiam ler e não conseguiam orientá-los.

É Imprescindível dizer que os filhos de analfabetos não estão condenados a serem analfabetos porque os pais são, porém, no Rio Xingu, é uma situação diferente, a localização geográfica e o acesso, colocam os povos ribeirinhos diante de quadros sociais diferenciados que os excluem de várias Políticas Públicas. São lugares, distantes que têm como estrada uma única artéria fluvial, que os impossibilita de serem contemplados com a educação formal, pois não são atendidos com o Ensino Fundamental completo, em quase 200 (duzentos) km de Rio só existem oito escolas com toda a Educação Básica (1º ao 5º ano).

Mais que escrever e ler que ¨a asa é da ave¨, ao alfabetizando necessitam perceber a necessidade de um outro aprendizado: o de ¨escrever¨ a sua vida, o de ¨ler¨ a sua realidade, o que não será possível se não tomam a história nas mãos para fazendo-a, por ela serem feitos e refeitos. (PAULO FREIRE, 1981, p.11).

Este breve escrito faz um pequeno desenho da educação formal e informal oferecidas a estas comunidades ribeirinhas, todas duas são mínimas em seu contexto, a primeira por não está contemplada na sua totalidade como preconiza a Constituição Federal Brasileira sobre os direitos igualitários a todos e a todas e a segunda é uma conseqüência da primeira, sem receber a educação formal a mulher e mãe ribeirinha se sente incapaz de educar, para estas, os ensinamentos que conseguem passar a sua prole provém da ajuda de Deus.

5. CONCLUSÃO

Esta pesquisa se propôs a investigar a percepção da mulher ribeirinha enquanto mãe e educadora da sua família.

Conclui-se, portanto, que a evolução e conquistas conseguidas ao longo do tempo não adentrou ainda estas comunidades, estas mulheres vivem isoladas e têm uma visão de mundo e desenvolvimento diferenciada, para elas a essencialidade é o viver para a sua família e em troca disto ser contemplada com as necessidades básicas como: o comer, a moradia e simplesmente o viver.

Percebe-se que não existe plenamente prévio para o seu cotidiano, quiçá para o seu futuro, isto propõe uma vida imprevisível, sem grandes emoções, apelando para DEUS que não venha doença, acidentes que o peixe não diminua.

Como mãe elas se conformam e acham muito boa a condição que é oferecida hoje para que seus filhos e filhas estudem, por meio de programa que introduzem uma pequena renda no orçamento familiar a exemplo da Bolsa Família, essa satisfação e conformação com o pouco que lhes é oferecido é demonstrada na fala abaixo de uma mãe.

¨agora ta tudo muito bom pra estudar, quando eu era piquena andava muito de terreno em terreno, fizesse sol ou chuva, sozinha por dentro dos matos. Chegava na escola num tia nada pra comer e ainda toda hora a professora brigava com nois, aí era difice que agente desistia. Os pai nem ligava, achava era bom, agente ajudava em casa. Hoje em dia é diferente, menino tem merenda, farda, transporte um pouco ruim mais tem e ainda recebe dinheiro pra estudar. Sei não aí quem me dera ter tido essa chance. Eu num tava mais nem aqui¨. PSA{iw}.

Nesta fala percebemos um conformismo melancólico onde uma mãe ribeirinha faz a descrição da oportunidade de estudar que seus filhos têm no momento atual, e ao mesmo demonstra a infinita tristeza por ter esta mesma oportunidade. Seria muito bom se estas mulheres que não tiveram as mesmas condições para estudar quando ainda crianças e ou adolescentes, pudessem recomeçar, porém com uma educação diferenciada em conformidade com os seus interesses, não seria necessário que esta educação despertasse nas mesmas, interesses alheios a sua cultura, mais que proporcionasse um levante de sua auto-estima e uma aprendizagem que lhe fizesse perceber essa mulher que tanto quanto o homem proporciona a sua família a sua família um crescimento não só físico, mais cultural, emocional e acima de tudo as tornassem visíveis nesta instituição chamada família.

A educação popular proposta por FREIRE, caminha em reta finita que pretende culminar com o trabalho e com auto estima reverenciada.

Quando os homens e os sujeitos do ¨Poderes¨ perceberem estas mulheres como seres humanos dignas de direitos, deveres e emoções poderão ser que consigam chegar até elas com um olhar diferente daquele que as via antes como meras companheiras de seus maridos e simples mães reprodutoras.

Após a pesquisa, conclui-se, portanto, que a educação faz parte da vida da mulher ribeirinha assim como: comer, dormir, viver e andar. Para esta mulher o seu papel na formação da família se dá por meio das atividades de subsistência como: cozinhar, lavar e cuidar dentro dos limites a elas impostos e dos seus saberes.

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{1} Pesquisa realizada com as mulheres ribeirinhas da gleba Assuriny e das localidades do Rio Xingu, Município de Altamira, Estado do Pará – 2007, 2008 e 2009.

{2} Pesquisa com as seguintes mulheres: Antonia Martins ( Toinha), Antonia Melo ( A melo), Ducila Alemida, Odila Souza e Raimunda Costa.

Um comentário:

  1. Prof. Nilson, fiquei deveras contente em poder encontar um blog de professor em Altamira, mas me parece que você desistiu do blog?

    Já morei aí na cidade (1976/1980) e gostaria de trocar idéias sobre literatura, história da região, o tema "Belo Monte", etc.

    abs

    P.S.: O sr. chegou aí em que época?

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